Saturday, October 10, 2009

Das dualidades da vida

A solidão, né?! Todos tem medo dela. Por isso acabam se metendo em relações vazias e doentias. Do tipo "chupar dedo". Namorados tomam o papel de pais para suprir a carência do outro. As pessoas acabam sendo anuladas pela própria relação. Não existe mais individualidade. Só saem juntos, só querem juntos, só fazem juntos. De repente os objetivos, vontades, valores, idéias e opiniões individuais se perdem. A pessoa se perde. E o relacionamento amoroso também. Porque já não é mais uma relação com 2 pessoas. São duas pessoas pela metade.
Isso serve para amizades e relações familiares.


Ok. Mas e eu? Logo eu, pessoa conscientemente carente. Romântica por profissão!
De repente me vejo no caminho oposto. Por diversas razões da vida, acabei tendo que aprender a ficar sozinha. Sozinha em todos os sentidos: longe da familia, dos amigos e sem namorados. Durante um tempo significativo.
Era eu comigo mesma. E pronto.


Foi uma das melhores coisas que aconteceram até hoje. Porque eu me descobri como indivíduo. Descobri o que me agradava, o que me movia, o que fazia parte de mim - e só de mim. O incompartilhável, o que reforça nossa solidão, por ser só nosso. Nas horas de mais profunda solidão , aliás momentos inevitáveis na vida de seres humanos, eu me agarrava em mim. Encontrei um universo gigantesco. Música, livros, arte, natureza, vida, arco-íris, borboleta, prazer, vaidade, movimento, respiração, praia, sol, filmes. Tanta coisa.


Pois bem, a vida não para. E eis que o mundo gira e cá estou eu na situação oposta. Agora tenho que aprender a não ser só. Em todos os sentidos mais uma vez. De repente ("não mais que de repente") eu preciso negociar minha vontade com a vontade de outra pessoa. A louça do café-da-manhã duplicou - diria até quadruplicou, porque minha mãe adora sujar coisas. Abrir os olhos não significa levantar imediatamente da cama. Meu tempo não é exclusivo para mim.
Quem diria. Agora preciso aprender a me relacionar com as outras pessoas do mundo. Olá, pessoas.

Admito, ainda estou no processo. É necessário equilibrar a individualidade e as relações. Caso contrário, voltamos a estaca zero.
Não, a gente nunca volta à estaca zero.


"Meu adeus nunca é sereno
Nele há reflexos de luta
E dor
Pois o que foi meu
É irrevogável"


Agora aprendo a compartilhar o incompartilhável. E é uma delícia. Como pipoca e chocolate. Ou cerveja e amigos. Ou família domingo. E carinho em dia de chuva.








Meses depois eu reapareço. Os ciclos da vida, não?