Saturday, November 29, 2008

Num sábado chuvoso qualquer

Tinha uma menina no ônibus. Cabelos claros, olhos redondos assustados e curiosos. Ela devia ter seus 8 ou 9 anos. Vestia uma jaqueta rosa, saia jeans e legging rosa. Parecia uma boneca. As pernas finas. Magra.. tão magrinha..

Ela estava acompanhada de 3 mulheres e mais uma menininha, mais nova. Ela sentou do meu lado e ao lado dela sentou uma das mulheres. Eu tive a infelicidade de ouvir a fala da mulher para a menina.

"Desgruda de mim, que eu não gosto de gente.."

Não ouvi a última palavra.

A menina levantou profundamente triste. Foi conversar com a segunda mulher, que estava alguns bancos na frente. Ela ficou em pé, no ônibus balançando, com várias cadeiras vazias.

Naquele momento eu estava com muita raiva. Mal-humorada, chateada, irritada. Pronta para brigar quando chegasse em casa. Achei aquilo tudo horrível e pensei como as pessoas mal-humoradas são grosseiras.

Até que a menina voltou. Tentou sentar no colo da terceira mulher. "Não, vai sentar na cadeira". A menina, ainda muito triste, sentou na cadeira original, ao meu lado e da primeira mulher. Falou alguma coisa no seu ouvido e ficou quietinha sentada. Os olhos fechavam de sono e ela tentava equilibrar a cabeça.

Eu olhava pra ela. Não conseguia parar de olhar. E sorrir. De repente me deu uma calma e vontade de cuidar daquela criança. Por pouco eu não puxei assunto com ela, para fazer companhia. Mas a mãe percebeu que eu olhava. Deve ter ficado envergonhada da própria grosseria e colocou a cabeça da menina no ombro. A criança automaticamente fez pegou as mãos da mulher. Depois começou a fazer carinho em suas pernas, sem parar.

Tanto carinho. Tanta ternura. E aquelas ogras destratando a menina linda das pernas finas.

O meu mau-humor passou. Lembrei de um dos dias mais dificeis da minha vida, em que eu só pensava em não me encher de ódio. Por mim. E mais uma vez, por mim, eu me livrei de qualquer sentimento ruim. E me acalmei.

Saí do ônibus. Estava chovendo e tocava New York, New York.


Vida.

Friday, November 28, 2008

Tell me did the wind sweep you off your feet?

Did you finally get the chance to dance along the light of day
And head back toward the milky way?

Tell me did you sail across the sun?
Did you make it to the milky way to see the lights all faded
And that heaven is overrated?
Tell me, did you fall for a shooting star?
One without a permanent scar
And then you miss me while you were looking for yourself?

Did you finally get the chance to dance along the light of day?




Poesia. Porque é assim que eu entendo a vida.


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Sensorial.

Uma torta de banana. O topo crocante e leve. Um gigantesco suspiro, que derrete na boca. Uma fina capa de nuvem. Por baixo, o doce. Uma densa piscina de doce de leite. No fim, a banana picada. Pedacinhos da fruta misturados com açucar e mel.

Um dia eu ouvi: " Existe uma razão para chamarem as pessoas de amargas. É falta de doce."

Imagino que eu não sofra desse mal.

Monday, November 17, 2008

Elis

O morro não tem vez
E o que ele fez já foi demais
Mas olhem bem vocês
Quando derem vez ao morro
Toda a cidade vai cantar
Escravo no mundo em que sou
Escravo no reino em que sou
Mas acorrentado ninguém pode amar


Feio não é bonito
O morro existe mas pede para se acabar
Canta, mas canta triste
Porque tristeza é só o que se tem para cantar
Chora, mas chora rindo
Porque valente nunca se deixa quedar
Ama, o morro ama
Amor bonito, um amor aflito
Que até dele chora


Vamos carioca
Sai do teu sono devagar
O dia já vem vindo aí e o sol já vai rair
São Jorge teu padrinho te dê cana pra tomar
Xangô teu pai te dê muitas mulheres para amar


Saravá Ogum mandinga a gente continua
Cadê o despacho pra cavá
Tá no terrero da floresta
Se você não vem eu mesma vou tirá
Se você não vem eu mesma vou ficá


A felicidade é como uma pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve, mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar


Subi lá no morro
Só pra ver o que o negro tem
Pra cantar assim gostoso
E fazer samba como ninguém


Vou andar por aí
Perguntar por aí
Pra ver se eu encontro a paz que eu perdi


A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando eu vi a mocidade perdida
A sorrir
Eu pretendo levar a vida
Pois chorando eu vi a mocidade perdida


Se alguém perguntar por mim
Diz que fui por aí
Levando o violão debaixo do braço
Em qualquer esquina eu paro
Em qualquer botequim eu entro
E se houver motivo é mais um samba que eu faço
E se quiserem saber se eu volto
Diga que sim, mas só depois
Que a saudade se afastar de mim
Mas só depois que a saudade se afastar


Acendar as velas já é profissão
Quando não tem cana
Tem desilusão
Acender as velas já é profissão
Quando não sou eu, é Nara Leão


Eu sou o samba
A voz do morro sou eu mesmo sim senhor
Quero mostrar ao mundo que tenho valor
Eu sou o rei do terreiro
Eu sou o samba
Sou natural daqui do Rio de Janeiro
Sou eu quem leva a alegria
Para milhões de corações brasileiros


O morro não tem vez
E o que ele fez já foi demais
Mas olhem bem vocês
Quando derem vez ao morro
Toda a cidade vai cantar


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Ela sempre aparece nos momentos.

Wednesday, November 12, 2008

"Young hearts

run free"

ROMEO

If I profane with my unworthiest hand
This holy shrine, the gentle fine is this:
My lips, two blushing pilgrims, ready stand
To smooth that rough touch with a tender kiss.

JULIET

Good pilgrim, you do wrong your hand too much,
Which mannerly devotion shows in this;
For saints have hands that pilgrims' hands do touch,
And palm to palm is holy palmers' kiss.

ROMEO

Have not saints lips, and holy palmers too?

JULIET

Ay, pilgrim, lips that they must use in prayer.

ROMEO

O, then, dear saint, let lips do what hands do;
They pray, grant thou, lest faith turn to despair.

JULIET

Saints do not move, though grant for prayers' sake.

ROMEO

Then move not, while my prayer's effect I take.
Thus from my lips, by yours, my sin is purged.

JULIET

Then have my lips the sin that they have took.

ROMEO

Sin from thy lips? O trespass sweetly urged!
Give me my sin again.




Porque no curso o prof. mostra essa cena linda. Horas depois o filme passa na TV. Decido pegar o livro na biblioteca. No dia seguinte meu amigo me pergunta se por acaso eu tenho Romeu e Julieta.

Deve ser um clima shakespeariano no ar...

Sunday, November 2, 2008

"You do it all again

but you don't stop trying"

É. Eu sei.

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E viva a elasticidade humana. Porque para ir ao banheiro universitário é preciso ser contorcionista. E um pouco equilibrista. Levantar a saia, segurar a bolsa, prender a porta, puxar o papel e tudo numa posição não exatamente confortável... é digno de mestre.

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Nada garante. Estudar não garante um futuro profissional, comer não garante que eu não vá continuar com fome, o passado fiel não garante a fidelidade no futuro, uma vida saudável não garante uma vida sem doenças. E por aí vai.
Eu acredito que a vida é causa e consequência, mas ela tem uma lógica própria que eu não entendo e provavelmente nunca vou entender. Mas deve fazer sentido em algum outro lugar. Se é que sentido de fato existe.

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Só porque eu tenho um tempo no meu dia para não fazer nada, não quer dizer que este tempo está livre para ser preenchido. Muito menos com coisas de trabalho.

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"... ao mesmo tempo, como quem toca os lábios no mesmo beijo"

Mãozinhas na cintura e nariz no pescoço.

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Começo a achar que as pessoas deveriam se preocupar menos com a vida dos outros. Se bem que isso significaria pensar nos próprios problemas, o que nem sempre parece tão interessante. Ou se tem coragem para tal.