Tuesday, December 30, 2008

"Um barquinho a deslizar no macio azul do mar"

Ela veio me cumprimentar, mesmo eu estando suja e melada de praia. Dois beijinhos e alguns minutos de conversa, para me dizer o quanto minha mãe é uma pessoa ótima, boa, e como eu e meu irmão somos pessoas lindas. Contou a história do neto, que teve apendicite na véspera de Natal. A outra avó não conseguia atendimento para a criança e, intrigada, perguntou porquê ela sempre conseguia. O segredo? "É só você saber tratar as pessoas bem. Ser educada". Porque com educação e gentileza o movimento vai mais suave. Terminou com mais dois beijinhos e mais alguns minutos de elogios rasgados para minha mãe - "pessoa iluminada... como ela é boa..." - e para os filhos. Eu e meu irmão.

Chego em casa e está tocando uma ópera animadíssima. Música pela casa inteira. Uma senhorinha, nos seus 90 anos, sentada no sofá batendo palma, com um sorriso largo no rosto.

Amanhã a família vem.

E assim você percebe que as coisas estão melhorando. E voltando para seus devidos lugares.


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Então 2008 termina de forma nobre, com direito à areia, sol e água salgada.
2007 fechou com toda a tranquilidade merecida, 2008 começou de forma promissora e agora termina belo, poético, inteiro.

Uma ótima passagem de ano para todos. Os que estão perto e os que estão longe!

Wednesday, December 24, 2008

"Pensar - e sentir* - é mover-se no infinito"

Lacordaire



*nota da autora

Para Dukheim o ser humano é um (o único) ser utópico. Ele sonha, projeta, vê o real transfigurado. E esta é a transcendência - romper para além daquilo que é dado.

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Nós, humanos, construimos representações para entender o mundo. Nós ordenamos, damos significado e forma, racionalizamos. Projetamos uma lógica nossa para coisas inexplicáveis pelas nossas limitações. Tornamos mais concreto para nos relacionarmos com aquilo. Como numa terapia, quando é preciso falar o "problema" para, aí sim, começar a mexer nele.
Mas as representações não são as coisas em si. São "traduções das experiências originárias, mas não são as experiências originárias".
Aqui eu estou falando de Deus, dos sentimentos, das sensações, do tempo. Mas poderia estar falando de tudo. Absolutamente.

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"Então, transcendência , fundamentalmente, é essa capacidade de romper todos os limites, superar e violar os interditos, projetar-se sempre num mais além.

Para dar uma exemplo dessa dimensão, vamos escolher a primeira página do Gênesis, a famosa história de Adão e Eva. Ela pode ser lida em muitos códigos. O cristianismo, a tradição judaico-cristã, lê num código religioso, fala de pecado original, tudo aquilo que já sabemos. Mas a leitura antropológica e filosófica descobre aí o ato supremo do ser humano: "Você não pode comer da fruta proibida; se comer, você morre." E o ser humano tem o prazer de violar o interdito, de fazer a coisa proibida. Não existe tentação maior. E ele viola, descobre a sua realidade de transcendência, se transforma em humano. Isso faz com que essa passagem bíblica seja grandiosa, reveladora da essência da liberdade"

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"Para mim, a experiência mais fundamental, aquela que toca a profundidade de nós mesmos, é a do enamoramento. Quando a pessoa se enamora, a outra vira uma divindidade. Não se mede sacrifícios, o tempo não conta. Você cancela tudo, chega a mentir para se encontrar com a pessoa amada. Por quê? Porque você sai de si e vai ao encontro do outro. É uma experiência de êxtase, extática, fora da realidade. Não há quem não se enamore.

[...]

Eis uma experiência de transcendência. Experiência do encontro entre duas pessoas que se enamoram e se amam. E quando se dá a intimidade sexual, expressão do amor, uma se perde para dentro da outra e esquece-se o tempo. Vive uma experiência mística, de antecipação da eternidade. Todos os místicos, quando estão no auge do seu enamoramento com Deus, falam do esponsal: "do amado na amada transformado", como diz São João da Cruz. Porque esta é uma experiência suprema, em que os seres humanos saltam na direção do outro, numa fusão gratificante. É uma experiência só comparável à da intimidade, da erótica."


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O vazio do ser humano, sua eterna instisfação (pelo desejo de mais) é a sua grandeza, seu dinamismo, sua essência.
Como minha terapeuta sempre diz. Nossas angústias devem nos levar ao movimento. Movimento é vida, ação, crescimento.

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"Nada consegue absorver tudo. Nada me define. Nada é definitivo. A realidade, o real, é apenas uma real-lização das potencialidades existentes no universo"

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"Quando estás comigo, o amor não me deixa dormir. E quando não estás comigo, as lágrimas não me deixam dormir. Teu amor chegou ao meu coração e partiu feliz. Depois retornou e me colocou o gosto do amor. Mas mais uma vez foi embora. Timidamente lhe pedi que ficasse comigo alguns dias. Então veio, sentou-se junto a mim e se esqueceu de partir"

Rumi, místico muçulmano.

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"Quanto mais coisas vejo no mundo, mais claro fica para mim que, sejamos ricos ou pobres, instruídos ou não, todos desejamos ser felizes e evitar os sofrimentos.

Constato que, de modo geral, as pessoas cuja conduta é eticamente positiva são mais felizes e satisfeitas do que aquelas que se descuidam da ética.

Tentarei mostrar neste livro o que quero dizer com a expressão 'conduta ética positiva'. Cheguei à conclusão de que não importa muito se uma pessoa tem ou não uma crença religiosa. Muito mais importante é que seja uma boa pessoa.

Estas declarações podem paracer estranhas, vindas de um personagem religioso. Porém, sou tibetano antes de ser Dalai-Lama, e sou humano antes de ser tibetano. Portanto, como ser humano, tenho uma responsabilidade muito maior para com toda a família humana - a responsabilidade que na verdade todos nós temos"



Dalai-Lama

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Já às 2h da madrugada de hoje eu decidi começar a ler um livro. Qualquer livro. Peguei um que estava ao lado da minha cama. "Tempo de transcendência", do Leonardo Boff. Dormi algumas horas depois, quando terminei de ler o livro inteiro.

Propício.


Feliz Natal para todos.

Tuesday, December 16, 2008

Cuidado com o que você pede.

Seu desejo pode ser atendido.

Deus ligou o ar condicionado. E a torneira.

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A árvore de Natal da minha casa sempre foi colorida. Eram dezenas de enfeites, de vários tipos, cores e tamanhos. Todo ano eu ficava doente no início de dezembro, então sabia que era hora de montar a árvore. Minha mãe tinha um ritual: primeiro os arames vermelhos de estralas, depois os cordões dourados. Em seguida os laços na ponta dos galhos, depois as bolas e , aí sim, os enfeites. Por fim, as luzes coloridas. E fora de sincronia. Porque Natal que era Natal tinha que ter luzes fora de sincronia. Algumas lâmpadas queimadas também. Na varanda a gente improvisava uma imagem de lâmpadas pisca-pisca. A gente dizia que era uma árvore, mas parecia um bolo estragado mesmo. E era a melhor coisa do mundo. Às vezes eu descia com minha mãe para ver as outras varandas enfeitadas. No dia 24 também tinha ritual. Minha mãe ficava a tarde toda na cozinha preparando o presunto, o peru e as rabanadas. Eu ajudava nas rabanadas. E comia enquanto estava quente. À noite, a gente fazia um caminho mais longo até a casa da minha tia, só para passar pela Lagoa e dar uma olhada na árvore.

De uns tempos para cá as cores da minha árvore vêm diminuindo. Esse ano ela é só dourada. Com luzes brancas. Honestamente eu não gosto. Mas não posso reclamar. Também não teve ritual. Não ajudei minha mãe a montar porque estava ocupada com minhas coisas. O tempo passa e as coisas mudam. O que não é necessariamente ruim, só diferente.

Até que um dia desses eu passei na casa da minha avó e tive um belo encontro. Lá estava uma árvore colorida, completamente desordenada, com luzes fora de sincronia. Na varanda muitas luzes piscando. Foi como revisitar um lugar muito especial. Me senti absolutamente confortável. E em casa.

Quem sabe eu não ajudo com as rabanadas de novo esse ano?! E de quebra ainda aprendo a fazer o presunto ou a farofa?!


Sempre gostei do Natal.


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Por alguma razão comecei a reler os depoimentos que meus amigos deixaram no meu orkut. Me bateu uma felicidade tão grande. É um carinho tão especial. Talvez a internet não seja tão má assim.

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"I'll open up my heart
I'll be loving you forever and ever
I will be part of you
In the way I do
Come into my life so I can sing"


Atualizando meu ipod eu descobri um baú de músicas no meu computador. Coloquei tudo no aparelho e fui caminhar (na esteira!). De repente eu estava de novo com meus 14 anos, pulando nas festas de formatura do colégio. Aquelas pessoas mais velhas, prontas para a faculdade. Que vontade eu tinha de ter 18 anos. Roubava um vestido da minha amiga - na época eu não tinha vestidos de festa - e me maquiava cautelosamente. Chegando na festa, eu esquecia tudo e dançava descontroladamente, não muito diferente de hoje em dia. Eu suava tanto. Pouco me importavam todas aquelas pessoas desconhecidas e suas poses. Eu tinha tudo que queria: música alta e uma pista de dança. Lembrei das músicas, dos passos, das amigas, das sensações.

Está tudo aqui, não é mesmo?! Só vai acumulando. Às vezes eu acho que não vai ter espaço. Mas sempre guardo mais e mais. Mais momentos especiais. E sempre com uma trilha de fundo.

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Exato. Fim de ano.

Wednesday, December 10, 2008

"It's getting hot in here"

Deus, liga o ar condicionado, por favor!?

Saturday, December 6, 2008

"Let's dance little stranger

Show me secret sins
Love can be like bondage
Seduce me once again"

http://www.youtube.com/watch?v=ekQZPozjCX8


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Descobri que numa relação em que há duas pessoas envolvidas, há conflito. Afinal, são dois mundo buscando a troca. Se não há troca, se nenhum dos dois mundos fica abalado, sai um pouco de órbita, modifica a estrutura... não há relação.
E vamos admitir: nem as rochas são imutavéis. Elas são afetadas por todo o resto.

Não sou exatamente fã de metáforas, mas gosto de imagens. Assim, sendo, o relacionamento é como uma dança. Tem os impulsos de um, de outro, a música, o ambiente.

Hum, isso me lembrou uma música.
"So this is strange, our sidestepping has come to be a brilliant dance where nobody leads at all, where nobody leads at all".

Tuesday, December 2, 2008

Romance

http://www.youtube.com/watch?v=R8tVhUFJ1Js



Porque a maravilha da arte é que ela fala por você.

Há algum tempo eu pensava em como explicar o que penso (na verdade tentava entender o que sinto) e de repente assisto a um filme no cinema em que os personagens falam por mim.
Incrível.



"Mãe, quero ser artista quando crescer!"