Wednesday, December 24, 2008

"Pensar - e sentir* - é mover-se no infinito"

Lacordaire



*nota da autora

Para Dukheim o ser humano é um (o único) ser utópico. Ele sonha, projeta, vê o real transfigurado. E esta é a transcendência - romper para além daquilo que é dado.

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Nós, humanos, construimos representações para entender o mundo. Nós ordenamos, damos significado e forma, racionalizamos. Projetamos uma lógica nossa para coisas inexplicáveis pelas nossas limitações. Tornamos mais concreto para nos relacionarmos com aquilo. Como numa terapia, quando é preciso falar o "problema" para, aí sim, começar a mexer nele.
Mas as representações não são as coisas em si. São "traduções das experiências originárias, mas não são as experiências originárias".
Aqui eu estou falando de Deus, dos sentimentos, das sensações, do tempo. Mas poderia estar falando de tudo. Absolutamente.

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"Então, transcendência , fundamentalmente, é essa capacidade de romper todos os limites, superar e violar os interditos, projetar-se sempre num mais além.

Para dar uma exemplo dessa dimensão, vamos escolher a primeira página do Gênesis, a famosa história de Adão e Eva. Ela pode ser lida em muitos códigos. O cristianismo, a tradição judaico-cristã, lê num código religioso, fala de pecado original, tudo aquilo que já sabemos. Mas a leitura antropológica e filosófica descobre aí o ato supremo do ser humano: "Você não pode comer da fruta proibida; se comer, você morre." E o ser humano tem o prazer de violar o interdito, de fazer a coisa proibida. Não existe tentação maior. E ele viola, descobre a sua realidade de transcendência, se transforma em humano. Isso faz com que essa passagem bíblica seja grandiosa, reveladora da essência da liberdade"

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"Para mim, a experiência mais fundamental, aquela que toca a profundidade de nós mesmos, é a do enamoramento. Quando a pessoa se enamora, a outra vira uma divindidade. Não se mede sacrifícios, o tempo não conta. Você cancela tudo, chega a mentir para se encontrar com a pessoa amada. Por quê? Porque você sai de si e vai ao encontro do outro. É uma experiência de êxtase, extática, fora da realidade. Não há quem não se enamore.

[...]

Eis uma experiência de transcendência. Experiência do encontro entre duas pessoas que se enamoram e se amam. E quando se dá a intimidade sexual, expressão do amor, uma se perde para dentro da outra e esquece-se o tempo. Vive uma experiência mística, de antecipação da eternidade. Todos os místicos, quando estão no auge do seu enamoramento com Deus, falam do esponsal: "do amado na amada transformado", como diz São João da Cruz. Porque esta é uma experiência suprema, em que os seres humanos saltam na direção do outro, numa fusão gratificante. É uma experiência só comparável à da intimidade, da erótica."


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O vazio do ser humano, sua eterna instisfação (pelo desejo de mais) é a sua grandeza, seu dinamismo, sua essência.
Como minha terapeuta sempre diz. Nossas angústias devem nos levar ao movimento. Movimento é vida, ação, crescimento.

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"Nada consegue absorver tudo. Nada me define. Nada é definitivo. A realidade, o real, é apenas uma real-lização das potencialidades existentes no universo"

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"Quando estás comigo, o amor não me deixa dormir. E quando não estás comigo, as lágrimas não me deixam dormir. Teu amor chegou ao meu coração e partiu feliz. Depois retornou e me colocou o gosto do amor. Mas mais uma vez foi embora. Timidamente lhe pedi que ficasse comigo alguns dias. Então veio, sentou-se junto a mim e se esqueceu de partir"

Rumi, místico muçulmano.

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"Quanto mais coisas vejo no mundo, mais claro fica para mim que, sejamos ricos ou pobres, instruídos ou não, todos desejamos ser felizes e evitar os sofrimentos.

Constato que, de modo geral, as pessoas cuja conduta é eticamente positiva são mais felizes e satisfeitas do que aquelas que se descuidam da ética.

Tentarei mostrar neste livro o que quero dizer com a expressão 'conduta ética positiva'. Cheguei à conclusão de que não importa muito se uma pessoa tem ou não uma crença religiosa. Muito mais importante é que seja uma boa pessoa.

Estas declarações podem paracer estranhas, vindas de um personagem religioso. Porém, sou tibetano antes de ser Dalai-Lama, e sou humano antes de ser tibetano. Portanto, como ser humano, tenho uma responsabilidade muito maior para com toda a família humana - a responsabilidade que na verdade todos nós temos"



Dalai-Lama

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Já às 2h da madrugada de hoje eu decidi começar a ler um livro. Qualquer livro. Peguei um que estava ao lado da minha cama. "Tempo de transcendência", do Leonardo Boff. Dormi algumas horas depois, quando terminei de ler o livro inteiro.

Propício.


Feliz Natal para todos.

1 comment:

Fábio said...

Consegue entender, agora, meu fetiche pela transcendência?

Beijos...