Tuesday, August 12, 2008

Minha primeira vez

A minha primeira vez foi cinematográfica. Aquela sala, aquelas pessoas. Posso até imaginar o perfil dos personagens. A secretária que acabou de sair do trabalho e foi arrastada pela amiga desquitada, a procura de um namorado. A senhora de 50 anos, atrás dos jovens galãs de 30, que ainda moram com a mãe e usam a sexualidade para suprir a frustração econômica. O casal procurando apimentar a relação. Os senhores de 50 anos loucos para roçar as pernas nas mulheres de 20. E nas de 50. E nos jovens de 30 também, quem sabe. Ah, claro, a personagem fundamental. A estudante de comunicação, intelectual alternativa, esquisita, que narra a história com seus pensamentos em off. Se fosse um filme hollywoodiano ela seria jornalista. No caso, é atriz e cineasta mesmo.
Como um bom filme alternativo, o personagem principal é o lugar. Como diria Dustin Hoffman, só falta saber se é uma tragédia ou uma comédia.Vou começar a fazer a análise aristotélica.

UCI - 19:30 - sala 12

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Ela nunca imaginou que as histórias que via eram verdade. A felicidade que as ações mais singelas causam. As situações mais inesperadas. Saiu andando pela rua modificada. Ela olhava para as pessoas e sabia que não era mais a mesma. Parecia mais viva. Porque era capaz. E tinha conseguido. Mais viva porque tinha uma vida, afinal.
Abriu o portão, cumprimentou o porteiro e esperou o elevador. Fechou os olhos. A porta do elevador abriu e ele saiu de dentro. Logo ele. Nunca poderia imaginar. Ela ficou sem graça. O coração acelerado. Ele abriu aquele sorriso enorme de sempre. Conversaram um pouco. Parecia coincidência demais. Surpresa demais.
Corte seco.
A porta do elevador abre. Não há ninguém. Ela entra, aperta o botão do terceiro andar. A porta fecha.

Estação Botafogo - 22h - sala 3

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